Campanha ‘Se liga, 16!’ ganha força e jovens correm para eleger presidente em 89
Uma das bandeiras do movimento
estudantil brasileiro na década de 80, o direito do jovem de 16 e 17 anos votar
foi conquistado durante a mobilização para pressionar a Assembleia Nacional
Constituinte de 1987-1988, que elaborou uma constituição democrática para o
país após o fim da ditadura militar (1964-1985). Promulgada no dia 5 de outubro
de 1988, a chamada Constituição Cidadã trazia um avanço às eleições brasileiras
— cujo voto secreto e obrigatório para maiores de 18 anos surgira na
Constituição de 1934 durante a Era Vargas. A nova Carta Magna, além de
instituir as eleições diretas para presidente da República, governador,
prefeito, senador, deputado federal e estadual e vereador, garantiu o direito
ao voto facultativo aos jovens a partir dos 16 anos.
E a campanha “Se liga, 16!”, com o
apoio de entidades como a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e
da União Nacional dos Estudantes (UNE), ganhou força no país. Os estudantes
queriam participar da eleição direta para presidente em 1989, a primeira desde
o fim da ditadura de 64. Enquanto hoje, segundo dados do TSE, apenas 25% dos
adolescentes com 16 e 17 anos tiraram título de eleitor para votar para
presidente este ano, renunciando ao seu direito, naquela época muitos jovens se
mobilizaram, inclusive de forma apartidária, para estimular o chamado voto
consciente.
No dia 2 de março de 1988, a
Constituinte aprovou o voto facultativo para menores a partir de 16 anos. De
autoria do deputado Hermes Zanetti (PMDB-RS), a emenda teve o apoio de 355
constituintes, recebeu 98 votos contrários e 38 abstenções. Estabeleceu ainda
que o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para maiores de 18 anos e
facultativos para os analfabetos e maiores de 70 anos. Nas galerias, cerca de
600 jovens comemoraram a decisão. Organizados pela Juventude Socialista, ele
cantaram o hino nacional e gritaram slogans como “Chegou a nossa vez, voto aos
16”.
A decisão provocou polêmica na
sociedade brasileira, recebendo apoio de parlamentares, como o senador Afonso
Arinos (PFL-RJ), de 82 anos, mas também críticas, a começar pelo então
presidente da República, José Sarney. O voto facultativo para os jovens não foi
bem recebido no Palácio do Planalto. Para a cúpula do governo, a medida poderia
colocar as principais decisões do país “nas mãos de crianças”. No dia 16 de
agosto, o plenário aprovava em definitivo o voto para os adolescentes de 16 e
17 anos, ao derrubar por larga maioria a emenda supressiva da deputada Rita
Furtado (PFL-RO), contrária à medida.
A vontade dos jovens de participar das
eleições, porém, vem diminuindo nos últimos pleitos. Enquanto em agosto de 1989,
filas se formavam no país para o cadastramento eleitoral de jovens, hoje o
interesse é menor. Naquele ano, o movimento “Se liga, 16!” também ganhou a
Praia do Arpoador, na Zona Sul do Rio. Em evento apartidário, foi lançado
durante show no Circo Voador.
Hoje, no entanto, um ano depois dos
protestos que levaram centenas de milhares de brasileiros às ruas, muitos deles
jovens, o desejo de votar é menor. Em meio ao ceticismo em relação aos partidos
políticos, aos seus líderes e à chamada, pelos cientistas políticos, democracia
representativa, o percentual de eleitores de 16 e 17 anos cadastrados na
Justiça Eleitoral despencou. Passou dos 39% da população nessa faixa etária, em
2006, para os atuais 25%.
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